Grandes quantidades de resíduos plásticos escapam dos sistema de coleta e terminam no meio ambiente. Os oceanos recebem uma boa parte destes materiais anualmente, com impactos significativos no meio ambiente a na economia.
Foto capa: Naja Bertolt Jensen (2021)
A produção e o consumo massivos de plástico levaram a uma geração igualmente massiva de resíduos plásticos. Quase dois terços desses resíduos são originários de plásticos com vida útil inferior a cinco anos. As embalagens contribuem com a maior parcela (40%), seguidas por bens de consumo (12%) e roupas e têxteis (11%). Apenas 9% dos resíduos plásticos são reciclados, enquanto a incineração responde por 19%e mais de 50% acabam em aterros sanitários. Significativos22% escapam dos sistemas de gerenciamento de resíduos, potencialmente atingindo ambientes terrestres e aquáticos(OCDE, 2022).
Aproximadamente80% da poluição plástica dos oceanos vem de fontes terrestres, principalmente devido a resíduos mal gerenciados (EEA, 2023). Estimativas sugerem que entre 4,8 a 12,7 milhões de toneladas destes resíduos entram nos oceanos anualmente (Jambeck et al., 2015) e que já há mais de 30 milhões de toneladas nos mares e oceanos, com mais 109 milhões acumulados nos rios (OCDE, 2022). Cerca de 60% do plástico produzido é menos denso que a água do mar, permitindo que o plástico flutuante seja transportado por correntes de superfície e ventos quando introduzido no ambiente marinho.
Os resíduos plásticos podem levar décadas para se degradar, eventualmente se quebrando em pedaços menores, chamados de micro- (≤ 5 mm) e nanoplásticos (≤ 0.1 µm). Em 2019, estima-se que entre82e358trilhões de partículas plásticas, pesando entre1,1e4,9milhões de toneladas, estavam flutuando nas superfícies dos oceanos (Eriksen,2023). Essas partículas minúsculas, junto a detritos plásticos maiores, são transportadas pelas correntes oceânicas e frequentemente se acumulam em giros oceânicos ou acabam em litorais a milhares de quilômetros de distância de sua origem, com consequências devastadoras.
O Grande Mancha de Lixo do Pacífico Norte é um dos giros oceânicos mais conhecidos e acredita-se que contenha cerca de 1,8 trilhão de pedaços de plástico, destacando a escala massiva do problema (Lebreton, 2018).Os detritos encontrados em qualquer região do oceano podem ser ingeridos por espécies marinhas, causando asfixia, fome e outros problemas. Além disso, microplásticos e contaminantes associados são transferidos por teias alimentares marinhas, potencialmente impactando a saúde humana (Carbery et al., 2018).
A poluição das praias, visível em litorais ao redor do mundo, é mais um exemplo das consequências não intencionais da má gestão de resíduos plásticos. Além dos impactos ambientais deletérios, a poluição plástica em litorais também afeta as economias locais que dependem do turismo, pois as praias ficam repletas de resíduos esteticamente desagradáveis e perigosos. Apesar da ampla discussão na imprensa popular sobre os impactos visuais dos plásticos marinhos nas comunidades costeiras ,ainda há relativamente pouca pesquisa publicada quantificando esses impactos (Corraini et al., 2018).
Estimou-se que a poluição marinha por plástico poderia ter resultado em uma perda econômica de US$ 6 a US$ 19 bilhões para 87 países costeiros em2018 (Deloitte, 2019). Na América do Sul, o impacto econômico em2018 foi calculado em US$ 447,6 milhões, com uma média de US$ 298,1milhões em custos de limpeza e US$ 149,5 milhões adicionais em perda de receita. No geral, o impacto econômico global da poluição marinha por plástico pode chegar a US$ 2,5 trilhões anualmente(Beaumont, 2019).
Para tratar desta situação é necessária uma abordagem multifacetada, que inclui a melhora da infraestrutura de gerenciamento de resíduos, a redução do consumo de plástico e o aumento das taxas de reciclagem. Além disso, dada a constante degradação dos plásticos, novos métodos são necessários para monitorar partículas plásticas no ambiente, fornecendo informações valiosas para esclarecer os impactos ecológicos de longo prazo desses materiais. É neste sentido que o projeto SensNexus busca fazer a sua contribuição.
Referências
Beaumont,N. J., Aanesen, M., Austen, M. C., Börger, T., Clark, J.R., Cole,M., Hooper, T., Lindeque, P. K., Pascoe, C., Wyles, K. J. (2019)Global ecological, social and economic impacts of marine plastic.Marine Pollution Bulletin, 142, 189-195.https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2019.03.022
Carbery,M., O'Connor, W., & Palanisami, T. (2018). Trophic transfer ofmicroplastics and mixed contaminants in the marine food web andimplications for human health.. Environment international, 115,400-409 . https://doi.org/10.1016/j.envint.2018.03.007
Corraini,N. R., Lima,A. S., Bonetti, J., Rangel-Buitrago, N. (2018) Troublesin the paradise: Litter and its scenic impact on the North SantaCatarina island beaches, Brazil. Marine Pollution Bulletin, 131(A),572-579. https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2018.04.061
Delloite(2019) The price tag of plastic pollution: An economic assessment ofriver plastic.https://www2.deloitte.com/dk/da/pages/strategy/articles/the-price-tag-of-plastic-pollution.html
EEA -European Environment Agency. (2023) From source to sea — The untoldstory of marine litter. Web Report.https://www.eea.europa.eu/publications/european-marine-litter-assessment
Eriksen, M., Cowger, W., Erdle, L. M., Coffin, S., Villarrubia-Gómez,P., Moore, C. J., Carpenter, E. J., Day, R. H., Thiel, M., Wilcox, C.(2023) A growing plastic smog, now estimated to be over 170 trillionplastic particles afloat in the world's oceans-Urgent solutionsrequired. PLoS One. 8;18(3):e0281596.https://doi.org/10.1371/journal.pone.0281596
Jambeck, J.R., Geyer, R., Wilcox, C., Siegler, T. R., Perryman, M., Andrady, A.,... & Law, K. L. (2015). Plastic waste inputs from land into theocean. Science, 347(6223), 768-771.
Lebreton,L., Slat, B., Ferrari, F. et al. (2018) Evidence that the GreatPacific Garbage Patch is rapidly accumulating plastic. Sci Rep 8,4666. https://doi.org/10.1038/s41598-018-22939-w
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